Hilpert Viana

Hilpert Doelinger Viana, o Viana, conhecido também pelo apelido carinhoso de Ilzinho na intimidade doméstica e na cidade de Anchieta, no estado do Espírito Santo, onde nasceu no dia 24 de março de 1921, filho de Álvaro Dias Viana e Diana Von Doellinger Viana, teve uma única irmã, Hilse Doelinger Viana Antunes, já desencarnada.

Casou-se em 18 de setembro de 1956 em Natal, Rio Grande do Norte, com Lenira Pereira Viana e teve quatro filhos: Paulo de Tarso, Cesar, Eduardo e Fernando Pereira Viana.

Ainda menino, aos 12 anos, Viana tinha o compromisso diário de trazer na canoa da família areia lavada extraída das margens do Rio Benevente para a construção da casa de seus pais. Alistou-se no exército aos 18 anos, indo morar no Rio de Janeiro e, nesta época, tornou-se simpatizante da Doutrina Espírita.

Quando em 1939 é declarada a Segunda Grande Guerra Mundial, conflito entre os Aliados e o Eixo, este último bloco formado pelos países Alemanha, Itália e Japão, Viana alistou-se no Exército Brasileiro como voluntário e vivenciou em território italiano o terror das batalhas no período compreendido entre 07 de dezembro de 1944 e 20 de setembro de 1945. Neste cenário, teve o primeiro contato com os espíritos Atualpa Barbosa Lima e Zélia Pedreira de Abreu Magalhães, Irmã Zélia, por meio da mediunidade de audiência e vidência.

Voltando ao Brasil, Viana radicou-se em Natal/RN iniciando sua participação efetiva no movimento espírita da cidade, estudando o Espiritismo e praticando a caridade. Por meio de concurso público iniciou sua vida profissional no Ministério do Trabalho e chegou ao cargo de Delegado Regional do Trabalho, conquistado com esforço próprio e características de vencedor: carisma, bom humor, determinação, responsabilidade e liderança. Autodidata, tocava acordeão/sanfona e falava, além do português, os idiomas inglês, espanhol, italiano e um pouco de alemão e francês. Seu hobby era o radioamadorismo, uma vez que enseja a oportunidade de ajudar ao próximo e seus familiares distantes territorialmente.

Em 06 de março de 1949, como presidente da Mocidade Espírita de Natal, entrega a obra concluída do Albergue Noturno no bairro Alecrim, casa de amparo aos necessitados que precisavam de uma rápida pousada, hoje um marco na vida da cidade. No ano de 1950, com a ajuda de alguns companheiros, constrói o Centro Espírita Vitor Hugo, na Rua Fontes Galvão, do qual foi presidente por longos anos, implantando a Campanha do Quilo, o estudo da mediunidade, evangelização infanto/juvenil, dentre outras atividades.

Neste mesmo ano, Viana participa ativamente do movimento de aproximação dos espíritas brasileiros, conhecido como Caravana da Fraternidade, que assegurou a consolidação do então recém implantado Conselho Federativo Nacional da Federação Espírita Brasileira, após a assinatura do Pacto Áureo. O livro "A Caravana da Fraternidade", editado pela FEB em 2010, obra do acervo da memória do Movimento Espírita brasileiro, conta com fotos do Viana, inclusive na capa - último à direita, e referências no seu conteúdo ao nosso irmão.

Em 1956 é transferido para Belo Horizonte e passa a freqüentar a União Espírita Mineira.

Em Minas, fundou um grupo mediúnico com o nome de Atualpa Barbosa Lima. Desenvolveu aí o seu trabalho no campo da mediunidade, da oratória e da prática da caridade, deixando sempre plantada a sua marca por onde passou. Viana era muito conhecido pelo seu entusiasmo, sua alegria e conhecimento doutrinário. Durante o ano de 1958, acompanhado de um pequeno grupo, visitava semanalmente o médium Francisco Cândido Xavier na cidade de Pedro Leopoldo/MG, nas reuniões do Centro Espírita Luiz Gonzaga; com postura de aprendiz, absorvia os ensinamentos transmitidos pelo querido irmão de todos nós, Chico Xavier.

Brasília, a nova capital federal, nascia em 1960. Transferido profissionalmente neste mesmo ano para o Distrito Federal, Viana procurou um grupo espírita que se reunia a noite na Casa do Barata, conhecida loja de material de construção. Este grupo ficou historicamente conhecido como o Grupo dos Pioneiros e Missionários que chegavam à nova cidade com a nobre tarefa de plantar o Evangelho de Jesus à Luz da Doutrina Espírita.

Em 28 de outubro de 1960 nascia o Grêmio Espírita Atualpa Barbosa Lima em terreno doado pela Novacap, órgão de Governo do Distrito Federal, em uma área física de 7.500m2 e hoje com 4.000m2 de área construída. A primeira construção foi um barracão de madeira onde se desenvolviam reuniões públicas, evangelização infanto-juvenil e trabalhos mediúnicos, e em um "puxadinho" também de madeira, começou o trabalho de distribuição sopa aos necessitados, trabalho que hoje, 50 anos depois, continua com atendimento a cerca de 300 pessoas todos os domingos.

A Casa crescia física e espiritualmente, amparada por fiéis companheiros dos dois planos, e o barracão se transformou no primeiro bloco de alvenaria da estrutura atual, o bloco "A".

Em 21 de abril de 1973 Viana fundou o "Jornal Brasília Espírita", hoje com uma tiragem de 2.000 exemplares encaminhados para todo o território nacional e para vários países como Portugal, Itália, França, Espanha, Austrália, Estados Unidos, Guatemala, Colômbia, Argentina, dentre outros.

O Grêmio Espírita Atualpa de Brasília continuava crescendo em conquistas espirituais e o sonho de Viana cumpria fielmente os ensinamentos do Cristo "Ide e Pregai a toda a gente". Parte desse sonho era o desejo de fixar um ponto de luz do Evangelho na terra onde nasceu, Anchieta/ES. E como nos diz Emmanuel, "a ideoplasticidade do pensamento [...] estabelece a união dos dois mundos, o físico e o espiritual, através de fatores inacessíveis às vossas medidas e instrumentos materiais"; este conceito explica resultados expressivos quando a vontade sublime está aliada ao desejo de realizar algo em sintonia com a espiritualidade maior.

Assim é que em Anchieta, à Rua Costa Pereira no 270, a família Viana era proprietária de um prédio com três apartamentos; um deles, feita algumas reformas, foi transformado em local para reuniões públicas espíritas. E, embora a Casa Espírita já acontecesse no plano espiritual, onde primeiramente é fundada, o sonho foi aos poucos tomando forma no plano físico. No dia 28 de outubro de 1982, chegava à cidade praiana do Espírito Santo uma caravana com mais de 30 pessoas em ônibus fretado vindo de Brasília, focada no objetivo de "vamos inaugurar o Atualpa da praia", como dizia o nosso irmão Viana/Ilzinho. Para completar tamanha alegria, a esposa Lenira trazia do Rio de Janeiro/RJ as irmãs Sônia e Maria Helena Barbosa Lima, filhas do Dr. Atualpa, para presenciar o acontecimento tão acalentado e planejado da estrada fluídica firmada e consolidada entre os dois planos.

Foi um dia de festas. Certamente Atualpa, espírito, não se continha em alegrias. Palestras, poesias, cantos e a apresentação da peça teatral por jovens espíritas "O Boi e o Burro a caminho de Belém", de Maria Clara Machado. Viana/Ilzinho era um grande incentivador das artes entre os jovens nas casas espíritas por onde passou. No dia seguinte a caravana de Brasília retorna e Ilzinho permanece em Anchieta para a organização dos trabalhos; a partir desse dia, todas as segundas e quintas-feiras, à semelhança do que acontecia em Brasília, o primeiro e pequeno grupo formado se reunia no 2º andar do prédio das 20h às 21h com preparação de ambiente, leituras evangélicas, palestra, preces Aposentado do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, Viana vencia sem dificuldades, mensalmente, a distância entre o Rio de Janeiro, onde morava, e Anchieta. Porém a família consangüínea crescia e exigia a sua presença. "Os bons espíritos não nos desamparam nunca" e, assim, um casal de primos Antônio Vianna e Arlete assumiu dividir as tarefas no Atualpa de Anchieta. 

Queridos amigos, Toninho e Arlete, como foi efetiva e carinhosa a ajuda de vocês! Como contribuíram para os trabalhos na Seara do Cristo e nos ajudaram durante o ano de 1983!

Em janeiro de 1984, recebemos a visita de nossa irmã Venita Abranches Simões em nossa residência no Leblon, Rio de Janeiro, já ciente de que havia um grupo espírita que se reunia para estudo e a prática da caridade em Anchieta e do qual ela gostaria de participar. Na ocasião, Viana e Venita conversaram bastante e Viana viajou com maior frequência nos meses de fevereiro a maio daquele ano ao Espírito Santo para os acertos finais com Venita, no intuito de deixá-la na coordenação das atividades do Grêmio Espírita Atualpa de Anchieta. Voltava ao Rio entusiasmado com o dinamismo e conhecimento doutrinário do novo membro da família Atualpa.

No dia 26 de maio de 1984, Ilzinho volta a Anchieta para construir uma garagem para guardar um pequeno barco adquirido para as férias da família, programadas para julho. No retorno ao Rio, no dia 1º de junho daquele ano, Viana/Ilzinho sofre acidente automobilístico na altura do município de Cachoeiro do Itapemirim, causando a sua desencarnação. Seu corpo físico retorna a Anchieta e no dia seguinte é sepultado com a presença da família, de amigos da cidade, amigos vindos de Brasília e do Rio de Janeiro. 

Fato relevante ocorreu pouco antes de sua partida, ainda em Anchieta. Viana/Ilzinho passa nas instalações do Grêmio Espírita Atualpa e registra no quadro de giz a seguinte frase que o norteou por toda vida de luta em prol da divulgação dos ensinos de Jesus e da Doutrina Espírita, "Senhor, conte comigo!"

Esta frase continua gravada no coração dos membros da família Atualpa como compromisso de cada um com o mesmo ideal do nosso irmão Viana e do Mestre Jesus. Trazemos esta semente no lema Estudo e Trabalho com Jesus e com Kardec. Estudo: esclarecimento, conhecimento, iluminação, sedimentação dos ensinos do Cristo. Trabalho: amor, caridade, renovação, reforma íntima, compromisso.

Após a desencarnação de Viana/Ilzinho, sua viúva Lenira mantém contato com Venita, tranqüilizando-a quanto ao uso do apartamento pelo Grêmio Espírita Atualpa e a continuidade do seu trabalho junto à comunidade anchietense. Seguindo a determinação de Jesus contida em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XI, itens 5 a 7, texto do evangelista Mateus, "Daí a Cesar o que é de Cesar, e a Deus o que é de Deus", faltavam à Instituição os registros cartoriais da lei de Cesar. E assim, é abordado o assunto do registro do Grêmio, quando Venita se oferece para realizar as formalidades junto ao cartório e órgãos públicos em Anchieta, e pede autorização à família Viana para mudar o nome de "Grêmio" para "Grupo". Venita solicita também a assunção da presidência até então sob a tutela de Viana/Ilzinho e a consequente continuidade dos trabalhos iniciados em 1982.

O Grêmio foi registrado nos órgãos competentes com o nome de Grupo Espírita Atualpa Barbosa Lima, em homenagem ao mentor e dirigente espiritual da Casa - médico e humanista nascido na cidade de Fortaleza/CE, em 19 de janeiro de 1894 e teve a sua desencarnação no dia 13 de janeiro de 1930.

Posteriormente, foi comunicado à família Viana que a sede da Casa Espírita, que funcionava alguns anos no apartamento do 2o andar, estava com espaço já pequeno para tantas atividades. "O movimento crescia liderado pela garra, empenho, determinação e a certeza de Venita quanto à procedência espiritual da obra por ela continuada a partir da iniciativa de Hilpert em 1982", palavras de suas filhas Maria da Penha e Verônica Abranches Simões.

Venita buscou junto à comunidade espírita e amigos pessoais recursos para aquisição de um terreno onde seria construída a sede própria do Grupo, agora sob sua responsabilidade. Em março de 1986, com a presença de amigos, fiéis colaboradores, de Lenira Pereira Viana e Paulo de Tarso, viúva e filho de Hilpert Doelinger Viana - Ilzinho, foi lançada simbolicamente a pedra fundamental em terreno à Rua Carlos Rubens Flores, no 222, bairro da Justiça I, Anchieta/ES.

Presidindo o Grupo até 20 de novembro de 2010, Venita teve sua desencarnação em 06 de fevereiro de 2011, sendo substituída na presidência pela confreira Valéria Cristina Thompson Machado.

São 90 anos que nosso irmão Viana ou Ilzinho está em nossos pensamentos e corações. É gratificante tê-lo conhecido nas circunstâncias dessa encarnação, na condição de esposo e pai! Muitos títulos e homenagens foram oferecidos a Hilpert Doelinger Viana, mas queremos apenas ressaltar a semeadura desse espírito empreendido na Seara Espírita e cônscio da sua responsabilidade com a Caridade.

Obs. Texto extraído do Jornal Brasília Espírita nº 170 de maio/junho - 2011

Ao nosso querido irmão Viana, fundador do Grêmio Espírita Atualpa Barbosa Lima, a nossa singela homenagem, nas saudosas palavras, que fazemos nossas, de Arlette e Toninho:

Ao Irmão Ilzinho
Tu foste! A saudade é grande
A alegria ainda é maior
Pois sabemos que partiste
Para um plano bem melhor
Nos ensinaste a estudar
O Evangelho de Jesus
E assim aprender a amar
Aquele que nos conduz
Esperamos ao partirmos
Terminando a nossa cruz
Te encontrarmos no caminho
Nos envolvendo de luz
E agradecermos contentes
Por tudo o que aqui passamos
As alegrias e as dores
Pois assim nos purificamos