Destaque

A administração da casa espírita deve ser humana e espiritualizada

A administração da casa espírita deve ser humana e espiritualizada, defende Paulo de Tarso, presidente do Grêmio Atualpa

Na presidência há um ano, ele almeja fazer uma gestão com inovação e com zelo aos pressupostos da harmonia com as pessoas e observância dos pilares da doutrina espírita.


Por Sionei Ricardo Leão 


Paulo de Tarso, presidente do Grêmio Atualpa, está na função há um ano, após ser eleito por unanimidade. É uma pessoa que expressa jovialidade na forma que se posiciona em vários temas e como se comporta num diálogo. Apesar disso não é afoito. A cada questionamento, costuma fazer um intervalo, ainda que breve, antes de dar a resposta ou emitir um comentário, instantes que se pauta em pilares doutrinários e aqueles obtidos na formação familiar, que no caso dele ecoam com muita transparência  e bom humor.  

É filho do casal que fundou o grêmio, ou seja, de Hilpert Doelinger Viana e Lenira Pereira Viana. Portanto, desde a adolescência acompanhou momentos decisivos na edificação da casa. Exerceu funções de liderança desde os primeiros momentos como, por exemplo, coordenador de juventude e estudo sistematizado. 

Tem também na trajetória a atuação de 24 anos como vice-presidente do Atualpa. Quando jovem, Paulo teve uma formação na Marinha, como aluno do Colégio Naval e cadete da Escola Naval. Anos que viveu no Rio de Janeiro. Abdicou da carreira militar para atuar como economista na Caixa Econômica Federal, empresa que o trouxe de volta ao Distrito Federal.  

Paulo de Tarso concedeu a entrevista entre um fim de tarde e início da noite na sala da presidência do grêmio. Durante um diálogo longo e agradável.  

Aos leitores, como podemos apresentar quem é Paulo de Tarso, presidente do Grêmio Atualpa?
Sou um homem de 66 anos de idade, que sempre pensou em maneiras de se fazer uma boa administração de casa espírita. Fixei na minha cabeça que a administração tem que ser humana e espiritualizada. 

O que quer dizer com humana e espiritualizada?
Veja bem. Tem pessoas que veem influência dos espíritos em tudo o que fazem. A meu ver não é assim que ocorre, quer dizer, existem demandas e desafios que cabem exclusivamente a nós, ao mesmo tempo, compreendo que se deva ter um respeito rigoroso as regras doutrinárias na condução das atividades do centro.  

Quais experiências destaca na trajetória no movimento espírita? 
Até os 14 anos frequentei o Atualpa. Fui coordenador da área de juventude, prestes a serem mudados os critérios, pois nessa fase esse segmento reunia pessoas dos 13 aos 21 anos de idade. Meu pai na época mudou, decidiu criar a pré-mocidade. Retornei em 1996, quando me tornei associado e membro da assembleia, em 1997. Fiquei como vice-presidente por 24 anos, entre 1998 e 2022. Para ser correto, me dediquei ao centro mais intensamente, com mais afinco, nos últimos 14 anos. Também atuei como tesoureiro e coordenador de estudo sistematizado. Assumiu a presidência há um ano. 

Você teve um período da vida fora de Brasília... 
Sim, no Rio de Janeiro, onde fui secretário de casa espírita e coordenador de juventude no Centro Espírita Allan Kardec, em Copacabana. Implantei o estudo sistematizado. Frequentei quatro casas espíritas no Rio de Janeiro. Extraí dessa fase um pensamento, visualizar que o poder é um meio para ter condições de tomar as melhores decisões. 

Por que houve esse intervalo de tempo, ou seja, o que te levou a sair e voltar a Brasília? 
Eu passei quatro anos como aluno da Marinha. Fiquei dois anos no Colégio Naval, em Angra dos Reis, e dois anos na Escola Naval, no Rio de Janeiro. Restava um ano para me formar como guarda-marinha e ingressar na carreira como oficial, mas cheguei à conclusão que essa não era minha vocação, por isso, pedi para sair. O meu pai concordou tranquilamente, mas me deixou um desafio, disse que eu tinha que arrumar um emprego no prazo de um mês. Consegui trabalho na Caixa Econômica Federal, onde atuei por 35 anos. Foi o banco que me trouxe de volta a Brasília. 

Por que houve esse intervalo de tempo, ou seja, o que te levou a sair e voltar a Brasília? 
Eu passei quatro anos como aluno da Marinha. Fiquei dois anos no Colégio Naval, em Angra dos Reis, e dois anos na Escola Naval, no Rio de Janeiro. Restava um ano para me formar como guarda-marinha e ingressar na carreira como oficial, mas cheguei à conclusão que essa não era minha vocação, por isso, pedi para sair. O meu pai concordou tranquilamente, mas me deixou um desafio, disse que eu tinha que arrumar um emprego no prazo de um mês. Consegui trabalho na Caixa Econômica Federal, onde atuei por 35 anos. Foi o banco que me trouxe de volta a Brasília. 

Por que motivo, você decidiu fazer concurso para a Marinha? 
Por um lado, o meu pai que tinha sido do Exército nos incentivou a carreira militar. Um de meus irmãos se tornou oficial e galgou patentes importantes. Tinha um quadro também, em  1973, aqui em Brasília, costumava-se dizer que o melhor hospital, as melhores lojas e de modo geral as melhores oportunidades estavam no aeroporto. Quer dizer, você precisava viajar para outros centros para despontar. 

Desse período, que aprendizado ou experiências, você entende que adquiriu prioritariamente?
Em todos esses momentos, sempre observei com interesse a forma que as grandes decisões foram tomadas nessas casas espíritas. 

Isso significa que a direção de um centro de alguma maneira despertava interesse? 
Fruto dessas análises, cheguei a compreensão que gestão significa usar números, qualificar e quantificar para amparar as decisões, sempre se baseando que o lado humano sobrepõe o espiritual. Administrar se traduz em respeitar manuais, estatutos e marcos legais de modo geral. 

Quais são os desafios que você enfrenta na presidência?
O meu grande desafio é substituir a minha mãe, que dirigiu o centro por 27 anos, que foi secretária da casa e membro conselho deliberativo. Uma pessoa com muita experiência, sem com isso arranhar a relação de mãe e filho.

Como você e ela lidam com essa situação que é familiar e também de gestão?
Quando fui convidado, raciocinei sobre que papel daria a minha mãe. Optei pela vice-presidência. No início tivemos pequenos atritos. No entanto, consegui fazê-la entender que o meu jeito de administrar seria diferente, que faria mudanças sempre para o bem da casa. Hoje ela concorda. Eu incentivo que minha mãe emita sua opinião mesmo que seja contrária à minha, até para um exercício de aprender e argumentar. O mais comum é que ela diante de uma demanda expresse o seu ponto de vista, mas sempre ressalva que quem vai decidir é o “Paulo” e invariavelmente respeita minha opinião. 

Percebo que você e ela tem uma relação de carinho e respeito que não é tão comum nas famílias. 
A nossa relação é fantástica. Ela soube separar muito bem, para mim, o que é ser filho e o que é ser filho de presidente. E ela fez isso magistralmente. Quando meu pai faleceu, nós perdemos o nosso ídolo. Ele era isso para a minha mãe, para mim e todos os irmãos. Ela soube se conduzir nesse momento com muita dignidade e firmeza, nos passou muita segurança.

Quando retornou a Brasília como adulto, como você se comportava em relação a ser um membro do Atualpa?
Eu sempre me apresentei no emprego como espírita. As pessoas sempre respeitaram bastante. Sobretudo, em momentos como funerais, por exemplo, buscavam a minha opinião e pediam a minha presença nas cerimônias. 

A respeito do movimento espírita do Distrito Federal, o que você tem a dizer?
A equipe que está na direção da FEDF é muito comprometida. É boa. Eu sinto muita segurança neles. Há um tempo atrás, não era convencido disso. Note que eles conseguiram uma boa solução para o terreno da federação no Sudoeste, por meio de um acordo que leva em conta o critério de bônus social. Do meu ponto de vista, o desafio da federação, quanto ao movimento é sempre zelar por soluções que sejam legais e morais em observação aos pressupostos doutrinários.  

Como você quer ficar conhecido depois que deixar a presidência do Atualpa? 
Quero ser lembrado como um inovador que atendeu os pressupostos da harmonia no centro. Não quero me tornar uma notoriedade. Algumas pessoas as vezes me sugerem que eu me conduza dessa forma, que modifique minha maneira de agir. Em parte, creio que, porque tenha eleito sido por unanimidade, com muita aceitação. Penso de forma diferente, me esforço para ser a mesma pessoa, com os mesmos comportamentos que tinha antes de assumir essa função.